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domingo, 24 de fevereiro de 2013

asilo

Chegue aqui,
Não tenha medo
Entre afagos, duros pelos
E sua pele pura, minha crua pele
Escute encostada em meu peito
Apelos, nada mais.

A única coisa vibrante que passa
No fundo de meu corpo frio
São as lembranças de uma vida errante
E os amores de um moribundo.

Jogado aos fundos de um cômodo
Chorando os tempos que se foram
A dor de nao sentir mais nada
Palavras que nao me atordoam.

Perdoa-me por isso, te peço
Não anseio flores nem lagrimas
Só espero que algum dia se lembre
De tudo que ja fiz por ti.

Por isso filha, chegue aqui
Voce que me abraçou quando pequena
Ouviu bater meu coração,
Chegue mais!
Escute agora meus ultimos suspiros
E veja onde esqueceu seus pais.
(monique pádua)

sábado, 18 de agosto de 2012

Nostalgias Eternas



       Não havia nada naquele lugar, mesmo que fosse incrível a verossimilhança, quem apenas com os olhos visse, não via nada, nada do que realmente existia ali. Algumas poucas pessoas chamava-me a atenção: uma cega, uma menina de trajes negros e um senhor que nada dizia.
       A menina, neta do casal, nunca separava-se deles.Varias vezes, escondida, a velha dizia que a morte estava próxima, ela podia vê-la sorrir. Dizia que a vida era boa, mas já havia partido daquela casa há alguns anos. O velho não dizia nada.
       A velha, sentava-se na cadeira de balanço do alpendre descuidado, trançava os cabelos e dizia esperar alguém que nunca vinha. Quando tarde, a neta vinha trazendo a noite... Toda espera em vão mais uma vez. O velho assistia a tudo, mas não dizia nada.
       A menina, todos os dias, tirava água de um poço, muito antigo, água suja, armazenada numa botija de barro, levava-a para a velha que esfregava-a nos olhos, chorava suas lágrimas impuras que misturavam-se c aquela água. O velho a bebia, e nada dizia.
       O velho, dono de alguns poucos bens: a casa, pela qual vagavam sombras do passado;uma bicicleta amarela, deixada sob uma mangueira e que sem dúvida alguma, ficava mais parada do que em uso; fotos e cartas que escondia debaixo do colchão e um relógio de bolso, que de tudo talvez fosse para ele o mais útil. Amava sua esposa incondicionalmente. Sabia que sofria, por isso a deixou partir sem que dissesse ao menos uma palavra . A neta que cuidava do casal também  partiu, para um '' lugar diferente '' talvez...
       Seu Patek, o relógio de bolso que tinha seu nome gravado, assim como ele, havia superado as expectativas de vida. O tempo, as quedas e demais contratempos o marcaram de diversas formas, mas isso não importava, já que ele ainda marcava um tempo custoso de passar. Olhar para ele era como vê-lo num espelho. Continuava funcionando após algumas substituições ou reparações de peças. Até quando não sabia. Só sabia que podia voltar o tempo, quando à noite, dormia e deixava-me vasculhar aquele lugar vazio e sombrio que se chamava sonho. ( monique pádua )

sábado, 28 de julho de 2012

anel de papel




 Ele não dizia mais coisas muito coerentes.  Depois de muito tempo enriquecendo outras pessoas, vendendo sua saúde ( ou não necessariamente sua )deixando sobrar momentos importantes no vago  passado da sua vida. Ele percebeu que as coisas já não eram como antes, e que talvez estivesse se desfazendo de algo que considerava essencial para continuar, e desistiu.
Por isso o que era  grande, foi simplificado a um jogo de tentativas, onde ele sempre saísse vencendo, e o premio que levava para casa não eram méritos desejáveis, vez ou outra, uma taça de otimismo que não passaria da estante da sala, sem utilidade, era o suficiente.
Como sofri com a nossa perda... Estávamos mesmo perdidos um do outro.  A única coisa que conseguia enxergar eram escolhas forçadas, mas ele se contentava com isso.
Me vi obedecendo, não mais a uma ditadura da felicidade, mas uma ditadura do hoje, onde tudo que fizesse não refletisse necessariamente um futuro pelo qual sonhei. 

sábado, 14 de janeiro de 2012

E então, foi se entregando ao pouco que, aos poucos, foi deixando escapar entre os dedos um pouco do céu.
E toda aquela “tinta” azul, envolvia-os e empoçava sob seus corpos trazendo de volta a paz que a tempo não encontravam.
Quando acordou, viu que era tarde. Foi embora deixando para ele os últimos vestígios de sua existência.
(monique pádua)

Soldados da nova Era

Diferente das disputas bélicas, por hegemonia ou algo do tipo. Não são aqueles que deixam suas famílias e vai à guerra no afã de vencer.
Nesse confronto nunca se sabe quem vence.
A farda agora tem um peso distinto, uma textura mais resistente, é indecifrável o rosto de quem se adere a mascaras. Um exército de homens que escondem de si mesmo dentro de armaduras moldadas como querem. Expressões cuidadosamente elaboradas para que pareçam sempre indiferentes.
A dificuldade de lidar com o abstrato, com aquilo que transcende os tornam soldados fracos.
Até o homem mais viril vive em guerra com seus próprios sentimentos.  (monique pádua)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

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Não abram seus livros, não concordem com tudo, nem sequer decore algo para uma prova qualquer. Abra sua mente...
Tudo o que aprendemos levaremos a vida inteira como algo nosso. Parte de tudo que formamos durante anos.
Como se eu não devesse a você, caro professor, meus momentos de calma e de alegria. Devo a esse professor da vida o melhor dos melhores textos, as mais sinceras palavras. Devo agradecer pelos conselhos  que sem duvida, não foram dados de boca pra fora.
E agora, devo seguir em frente, levando comigo uma “lousa” repleta daquilo que John Locke talvez discordasse se ainda fosse vivo, não  vão restar somente impressões do que um dia significou para mim uma idéia. Você seguira comigo como um conceito vivo do que é ser filósofo. Uma pessoa que fez tanta diferença não morrera nunca nem mesmo com as mais fortes armas da velhice: o esquecimento. 
À você, que me acompanhou desde pequena, e pude contar sempre, dedico cada momento da minha vida que fizer as escolhas certas, pois serão tomadas a partir daquilo que aprendi com você.
Vou sentir saudades.  (monique pádua)

sábado, 19 de novembro de 2011

Cidade das mulheres grávidas.


O forte cheiro de damas- da - noite fundira o motor do meu carro que antes nunca, em viagem alguma, havia me deixado na mão. A estrada era um cemitério de carros. 
O sol, irrevogavelmente impiedoso! E eu já cansado da busca pelo destino final, abandonei meu parceiro de aventuras na estrada para procurar ajuda. Os insetos pareciam estar no paraíso, o cheiro doce grudado na minha pele me tornava um alvo fácil para dos habitantes dali.
Meus pés doíam, andei sete quilômetros até chegar a um vilarejo rodeado por um muro altíssimo e todo coberto de flores, o crepúsculo tornavam-as todas meio alaranjadas e trazia uma imensa sensação de alívio a quem incessantemente procurava algo para beber.
Na entrada arqueada, vi uma moça jovem do sorriso muito bonito. Como se me esperasse há muito tempo, aguardou que eu me aproximasse para me dizer com uma voz delicadamente sutil:
- São Jasmins!
- Como?
- São Jasmins e não damas - da -noite. Não poderia esperar que destinguisse o cheiro, Homens não diferenciam isso, ou são agradáveis ou são fétidos.
- Bom, acho que preciso de...
- Ajuda?!
- Não, preciso de água!
A mulher passou a mão nos cabelos compridos e os prendeu, disse que me levaria a casa de uma amiga para que eu pudesse descansar. A minha ânsia pela paz era tamanha que pelo caminho nem reparei quem passava pelas calçadas de pedra e areia, ora pedra, ora areia, só isso sentia ao pisar sorrateiramente até chegar à casa da tal amiga.
 - Que bom que chegou jovem rapaz...
Uma senhora dizia essas palavras, suportando o peso de uma enorme barriga, as pernas trêmulas e a bengala desgastada arrastavam-se pelos cômodos da pequena casa.
- Menino ou menina?! Perguntei à velha que também parecia sempre sorrir.
- É menina!
- E como sabe? Vocês não possuem muita tecnologia por aqui, possuem?
- Tecnologia meu jovem, para que? Nós não somos pessoas atrasadas como vocês homens corrompidos. O seu principio hedonista não lhe enriquece de felicidade e não lhe preenche como nossos princípios.
- E quantas pessoas vivem aqui?
- São 1.300 mulheres, ao todo 2.600 habitantes vivas.
Surpreendido com a certeza, hesitei em perguntar onde estavam os homens. Preferi ir eu mesmo atrás de algum. As ruas estavam infestadas de mulheres, altas, baixas, loiras, ruivas ou morenas, eram todas mulheres grávidas e agiam como se não fossem.
Trabalhavam, lutavam, fabricavam suas espadas e seus braceletes. Trançavam o cabelo uma das outras e abraçavam-se felizes.
- Bonitas, não?!
-São sim, inexplicavelmente...
- Mulheres! As mais belas mulheres nascem aqui, é costume nosso dar a luz à pequenas meninas e mandá-las rio abaixo para que possa ser feita a justiça no mundo. Assim surgiu nosso vilarejo. Não conhecemos nossas mães, mas somos mães eternamente.
- Eu não entendo... Senhora pode me explicar como vivem aqui? Por que me trouxeram aqui?
- Nós não o trouxemos aqui, foi você quem veio até nós e se quer ajuda, eu vos ofereço ajuda, Mas com uma condição...
Várias mulheres se aproximavam cada vez mais e mais. Vestiram-me uma armadura e enrolaram fitas compridas e azuis em volta dela. Estavam enlouquecidas. Indubitavelmente, eu era a presa dos habitantes daquele vilarejo.   ( monique pádua )